sábado, 23 de janeiro de 2021

Entre pingos de chuva

 






Perguntas pelos horizontes

que me iludem as águas. São a chama

que me escreve o mundo

a luz que me ensina a soletrar a morte

que há de chegar.

Poderão ser palavras

que envelhecem contra a noite

ou as coisas improváveis

que recolho nas minhas mãos desprevenidas.

Talvez o relâmpago que se entranha no mar

ou a sílaba

amarrada

que transpõe as margens

no poema.


BL

23.01.21


domingo, 10 de janeiro de 2021

Já não sei se há domingo

 


Já tive uma rua inteira

aberta

cheia da luz de domingo

e uma porta deslumbrada

por onde essa luz entrava

completa.


Tinha também um rio

que passava ao pé da porta

de águas mansas e frescas

onde a vida se espelhava

e o meu corpo suspirava

pelo brilho de domingo

das flores

e das borboletas.


E nos meus olhos de mar

sorria a pureza do mundo

cabia um céu de gaivotas


[até deus tinha um lugar]


dentro dos meus olhos de mar

ao domingo.


Já não tenho nada

já não quero nada

já não sei o meu lugar

já não sei se há domingo

nem mesmo se quero o sol

a nascer detrás da noite

a ofuscar o luar

em cada madrugada.



BL