quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

De silêncio e água

 



havia uma brisa,
branda, breve,
a bailar no limiar da espuma.

um eco redondo,
rodopiando,
a levar no compasso
o voo dos pássaros.

um murmúrio,
tão vago, tão lento,
como corda que vibra
no silêncio suspenso.

e a ausência,
líquida, líquida,
a curvar-se no teu silêncio,
como nota que se dissolve
num acorde distante.

o tempo gotejava,
pingos de sombra,
pelas minhas mãos quietas,
musgos acesos,
a pulsar em contracanto
na penumbra da memória.





BL

10.12.25




terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Da luz e da sombra

 





no coração do dia
há uma chama que não se apaga
[um mapa secreto
entre a luz e a sombra]


a manhã abre-se como um orvalho
a tarde inclina-se no ouro dos telhados
a noite recolhe constelações na pele
e todas se encontram
num só silêncio que floresce


o poema é a travessia
é o voo que não termina
é o incêndio que se acalma
na inocência de nascer de novo


assim o ciclo se cumpre
na cartografia da luz e da sombra
onde cada instante é sagrado
e cada palavra é um corpo
que respira o universo inteiro





BL

09.12.25







segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Horizontes na memória

 




quando a tarde se abre no corpo das horas
derrama o ouro lento sobre os telhados
[um sopro de calor
na respiração das pedras]

os passos tornam-se rios
que deslizam na pele da cidade
e alonga-se cada sombra 
como se buscasse o repouso do vento

há um rumor de frutos
que amadurece no silêncio dos gestos
um destino suspenso
que se escreve na claridade dos olhos

o tempo esse viajante de fogo
desenha horizontes na memória
e oferece ao instante
a vertigem de um sol que se inclina

então a tarde curva-se
no abismo das sílabas
e o poema ardente e secreto
cresce como um incêndio nos seios
até que o universo se recolha
na inocência de um novo crepúsculo





BL

08.12.25





domingo, 7 de dezembro de 2025

Degraus da penumbra

 





as sombras arrastam-se pelos degraus
com sede de lobos
marca após marca
espalham fragmentos gastos no vazio
enquanto o gesto dobra
sobre ossadas ocultas
de visões e vigílias sem rosto





BL

07.12.25










sábado, 6 de dezembro de 2025

Reflexo quebrado

 




corpo de areia  
deserto suspenso  
pele que se desfaz  

corpo de neve  
silêncio branco  
pele que se dissolve  

entre ambos  
aurora sem flores  
ocaso sem raízes  

um olhar  
vidro partido  
tempo que não regressa



BL
06.12.25





quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Onde tudo se torna pó

 



escavo devagar  
a poeira dos dias  
outrora futuro  
agora ossário de gestos  
 
palavras secas  
ou pedras alinhadas  
corpos desfeitos  
bocas que se abrem em silêncio  
 
memórias desprendidas  
caem como folhas  
na aridez da página  
onde tudo se torna lista  
onde tudo se torna pó  



BL
03.12.25






quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Entre o eco e a noite

 





A noite repousa no vazio.

Só eco e distância.

E o presságio de uma memória 

oculta no sopro das palavras.






BL

27.11.25