quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O peso de passos invisíveis

 


 




A memória

ergue-se em muros quebrados


onde o musgo escreve nomes esquecidos.

 

Vozes antigas repousam em pedras que guardam

o peso de passos invisíveis.


Como se o gesto tivesse parado

a meio do tempo.

 

Entre as fendas

cresce um silêncio denso


feito de pó

e de sombra.


Um silêncio que respira

como se fosse vivo.

 

Há um espelho partido

reflexos perdidos
onde o passado insiste em permanecer.

 

 

 

 

BL

12.11.25





sábado, 8 de novembro de 2025

Círculos do tempo

 





No centro da memória
um relógio [sem ponteiros]
marca instantes que nunca aconteceram.

 

 As vozes do passado ecoam
em espirais
onde cada palavra se desfaz
antes de ser dita.


Um rio de sombras corre
em sentido inverso
e leva consigo os nomes
que esquecemos.

 

As raízes do tempo entrelaçam-se
no vazio
a bordarem mapas que ninguém sabe ler.

 

Há um silêncio que gira lentamente
como se esperasse por algo
que já foi
mas nunca chegou.





BL
08.11.25









sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O tempo fragmentado

 



O tempo fragmentado
escorre por fendas invisíveis
como vidro partido em silêncio.

 

Cada estilhaço guarda um instante
que não regressa
mas continua a arder no escuro.

 

As horas dispersam-se em círculos
perdendo o nome
como se nunca tivessem existido.

 

E no vazio entre os fragmentos
ergue-se uma sombra imóvel
que observa sem princípio nem fim.





BL

07.11.25






quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Rasto de seiva

 





Pisamos o silêncio
das folhas caídas

com o hálito a saber
a alecrim
e sombra.

Nos dedos
um relicário de instantes
que se desfazem
como névoa
ao toque do sol.

Há uma ternura
que se esconde
na dobra secreta
do peito
onde o tempo hesita
antes de seguir.

Talvez murmurem
os salgueiros
segredos antigos
aos ventos que passam

e talvez os pássaros
ao rasar o crepúsculo
tragam nas asas
o eco de promessas
não ditas.

Talvez a luz
que dança
na superfície dos lagos
seja o último gesto
dos dias
antes de se perderem
na eternidade.





BL

06.11.25












Esculturas do vento

 




Sílabas de água

prolongamento

dos instantes.

Grito

ou silêncio

passos esculpidos no vento.

Espaços

ou momentos

de ti de mim

ou de outros

tantos.




BL

06.11.25




quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Caminhos de pó e claridade

 



Suspendo os olhos num tempo
resgatado
para que possa redimir as pedras atravessadas
por sombras e imagens indecifráveis.

 

E deixo que a noite se abra em silêncio
como um rio que procura o mar escondido
entre raízes que guardam memórias
de passos que nunca cessaram.

 

O vento ergue-se em vozes antigas
tecendo caminhos de pó e claridade
onde a esperança repousa intacta
na chama secreta do horizonte.





BL

05.11.25








terça-feira, 4 de novembro de 2025

O eco das águas invisíveis

 



Sílabas de água
deslizam sobre a pele do tempo
como se cada instante fosse um espelho partido.


O vento recolhe passos invisíveis
e grava-os em dunas que respiram
onde o silêncio se confunde com o grito.


E no intervalo entre espaços e momentos
ergue-se uma voz sem dono
que nos chama pelo nome que esquecemos.




BL

04.11.25