terça-feira, 28 de novembro de 2023

Eu apenas e a janela







Eu apenas e a janela

sem rosto onde abrigo

o tempo.


Percorro a solidão

das ruas

a ausência magoa

o vazio ecoa

de asas abertas

palavras

por dizer.


Sustenho o chão na raiz

dos laços que me restam e sou


nas rosas

breves

que o silêncio não levou.


Eu apenas e a tela invisível

do tempo

em branco

que me sobrou.




BL

07.06.12










segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Enquanto a poesia não vier






Há no vento um silêncio de neblinas

um silêncio invisível

nos arbustos da manhã


uma canção impossível

de eternas borboletas

a renascer-me na pele

em imagens sobrepostas.


Entreabro a janela

enfrento os silêncios de dentro

arrumo sombras

e lágrimas uterinas.


Até ao anoitecer

enquanto a poesia não vier

caio em gotas de água fria

os dedos entrelaçados na valsa do vento

os olhos a caminharem sobre o tempo


como se nunca fossem chegar.



BL

14.06.12













sábado, 4 de novembro de 2023

Silabário

 





Explosão de sílabas


algumas fragmentadas

outras em moldes feitos por medida


murmúrios ascendentes

preces

ou

memórias

ecos da luz

andarilhos de espaços navegáveis.


Por vezes são

a respiração sonhada

a ondulação do tempo

o compasso do ar

a travessia do grito.


Conjugam a sombra e

a fuga


o mito

ou

a metáfora.


Transportam ausências

erros

ou

cicatrizes.


Por vezes são

a última vez

o risco

a libertação

o fim.




BL

03.11.23