quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Texturas




Vejo a tarde
nas ruas lavadas do silêncio

a distância imutável das searas
a embalarem o tempo.

Os contornos desarrumados que me habitam
a melancolia a sublinhar-me a curvatura dos ombros
ou as palavras onde me abrigo as horas.

E a contagem crescente das coisas
que me dizem de ti.

Sempre soube das linguagens desencontradas
que nos perderam no vazio

ou da dissonância das vozes
ao virar das páginas.

Basta-me agora o pouco da ilusão que
me foge

e me arrasta

a frescura da luz
diluída em janelas de ausência
a textura azul dos teus olhos na antologia da memória.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Oração





Bastava-me um gesto teu
uma espécie de sopro

 _ voz líquida das tuas mãos _

da pele
um quase nada

para abrir cá dentro
um rio

e de novo ser pássaro

ou madrugada.


B