domingo, 15 de março de 2015

Poema de domingo à tarde





Nomeio os caminhos
debruçados num cais de abril
quando na pele havia
rumores de manhãs primeiras
ou da luz a melodia inteira que em mim guardava.
E eu chamava-te instante
sonho
rosto
e a tua voz era o tempo verdadeiro a ensinar-me
o sol de maio a descer as ruas.
E num fio de versos soltos
ou na memória de uma página lenta
nomeio os lugares do silêncio
onde
sobre as mãos
baixam palavras nuas.




BL

domingo, 8 de março de 2015

Um lugar p'ra lá de mim





 
Nada tão nítido como o chão

que vem de dentro

ou este verde-tenro

que começo a respirar.

Regressa o silêncio branco

em sílabas de vento brando

sobre o perfume das frésias 

e do alecrim.

Regressam os rostos, regressam as vozes

a serem raízes

da árvore antiga que atravessa a vida

que toca a primeira seiva do jardim.

A tarde adormece ao fundo do olhar

vestida de um tempo quieto

enquanto horas de terra lenta se espalham pelo azul que cai

macio e longo

num lugar p'ra lá de mim.



BL

08.03.15

domingo, 1 de março de 2015

No coração de um pássaro


A imobilidade de um vulto

por dentro da imagem.

Um horizonte

feito de nomes e nomes construídos

sobre a quieta aceitação do silêncio.



Um vulto resignado.



A fechar palavras

vagarosas na luz tardia

de um quase improvável

esquecimento.



A fixidez do olhar

a vislumbrar o tronco ressequido

da árvore abatida.

A diluir a dor

da metáfora proibida.



Um vulto resignado.



E tudo a mover-se

ao invés

no coração de um pássaro.



BL